sábado, 16 de junho de 2012

Gamer girls

Ainda hoje vivemos numa sociedade em que os papéis de género estão, de certa forma, rigidamente definidos. Há a norma do que é ser "masculino" e "feminino", expectativas de comportamento social consoante o sexo, a maneira de vestir, a musica que se ouve, entre tantas outras questões. Até no que toca à actividade sexual, consoante se é homem ou mulher, a visão do outro perante o teu número de parceiros e regularidade da prática é completamente diferente.

Como não poderia deixar de ser este determinismo também está reflectido no mundo dos videojogos, desde sempre visto como destinados a um público masculino. Mas os videojogos já cá andam há umas décadas e com o progressivo melhoramento do hardware e a possibilidade de criar jogos com personagens e histórias mais complexas, o que dá uma maior possibilidade de identificação do jogador para o mundo/personagem do jogo, este meio foi-se "democratizando" e cada vez mais mulheres entram neste mundo.

Contudo, ainda continuamos a assistir, como em todos os meios, aliás, a uma sobrevalorização de personagens femininas nos videojogos, sendo mesmo que muitas delas apresentam sempre um papel subalterno perante as personagens masculinas ou são meramente usadas como sex symbols para um público masculino adolescente com as hormonas em ebulição. 

Ora, era esse mesmo facto que Anita Sarkeesian, uma blogger e crítica de pop culture de um ponto de vista feminista, queria demonstrar ao apresentar um projecto para um documentário intitulado "Tropes vs. Women in Videogames" no site Kickstarter.

O projecto, vá-se lá saber porquê, parece ter incomodado bastante gente. A autora foi vitima de uma torrente de críticas e insultos, a todos os níveis. Chegou-se ao ponto de alterarem a informação sobre ela na Wikipedia, recheando-a de insultos nada agradáveis. Enfim, um triste espectáculo!

Isto é bem demonstrativo do quanto a sociedade, nós, ainda temos de mudar em termos de mentalidade e de socialização. Uma coisa é fazer uma piada, outra bem diferente insultar de forma gratuita um projecto que parece a todos os níveis interessante por temos tão interiorizadas definições de género fabricadas. 

Até porque se é verdade, como alguns dos comentadores o disseram, que muitas das vezes as personagens masculinas também são altamente estereotipadas e obedecem a esses mesmos papéis de género, não é por esse motivo que este projecto perde pertinência.

O sexismo, homofobia e racismo são males sociais que infelizmente também se encontram entre os fãs de jogos. Porém, não é por ser um mal geral que se deve de ignorar esta realidade neste campo específico. Como em todos os campos, é preciso denunciar e esclarecer, para que consigamos que estas pragas desapareçam.

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